Benditas Palavras Bem Ditas: O que digo sobre escrever.

terça-feira, setembro 7

O que digo sobre escrever.


Via fave.com

Acredito que não será a única vez que falarei sobre escrever... Não é tudo que pode ou deve ser dito, mas o que se permite, rende-se à magia das palavras, que unem-se em pares, em trios, em grupos para compor uma coreografia na folha. Na folha? Eu gosto de escrever a mão. Sou da antiga. Já tentei gravador, MP, mas não perco o gosto por sentir os dedos doerem ao redigir rapidamente para as ideias não desaparecerem. Bem que alguns pensamentos poderiam aparecer em slow motion. Já perdi alguns dentro de mim, mas uma hora eles encontram o caminho da cachola novamente e, quem sabe, ressurgem renovados? Gostaria que meus dedos acompanhassem a rapidez do cérebro, mas não adianta, é ele quem manda mesmo.

Escrevo na tristeza, na alegria, na indignação, na renúncia, na inspiração, mas não insisto no cansaço. Jogo a toalha. Trégua às palavras que dançam, mas às vezes se escondem. Depois desenvolvo. Risco, apago, amasso a folha e em algum momento o ritual dá certo. Escrevo por amor, com dor, sorrindo, para o mundo, para mim, para ninguém, para camuflar, sem pudor e comedidamente. Escrevo para enviar, para mostrar, para aliviar, para cutucar e escrevo cartas que coleciono em caixinhas. Ainda não sei se as enviarei. Uma dessas caixinhas mora dentro de mim. Escrevo em guardanapos, bilhetes para enfeitar, para declarar ou somente para lembrar. Escrevo por encantamento. Um dia terá sentido compor (ou já tem agora). Não busco respostas. Faz sentido pra mim, se faz para alguém, esse alguém entende o amor que tenho pela arte. Porque escrever é divino. É liberta-dor.



Fernand's





12 comentários:

Francisco de Sousa Vieira Filho disse...

WAWWWW!!! Muito do que disse me tocou pela similitude de sentires e tamanha que ouso mostrar uns troços que fiz também falando da escrita... já até postei no blog, mas tá lá bem lá pra trás... o título é DE TINTA E CUNHA...

Nem tudo precisa de um porquê. Nosso modo Ocidental [de pensar, de agir, de viver] quer sempre buscar por um – um porquê, uma razão, uma ordem, uma lógica. Queremos uma seta, uma mira e um alvo. Queremos um móvel e um motor. Queremos um destino [e veja o desatino], não apenas isso, não apenas fim, mas começo e meio também. Queremos o caminho fácil, traçado no mapa da ilusão, e que haja tesouros ao fim da jornada sem-fim. Queremos a certeza num universo de incertezas.
Sim, neste caso específico [da poesia], como igualmente na escrita em geral, há de haver bem um porquê – e com um quero dizer sejam vários [desvarios, melhor se diria]. A resposta fica a depender do momento, do texto, do estilo, do que mexe, do que move [e do que nos move também]. E daí o porquê de dizer já não mais diria apenas um, mas alguns [porquês].
Ora escrevo por catarse, pra purgar e expulsar. Externar seria muito comedido pra poder expressar a pungência da idéia. Ideal mesmo seria: “botar pra fora”. Escrever aí é terapia. A intenção é a de, quem sabe, olhando no espelho do mundo o que outrora dentro esteve [e que, por vez, ainda está], possa então melhor analisar, divisando os meandros do que se extraiu. Ainda que, por vezes, o que se extraia seja horrendo; por vezes, belo; por vezes, cause choque e espanto; por vezes, seja apenas vômito a ser rejeito; mas que, por vezes, é ainda pedra bruta a lapidar na alma. E, por meio de tal análise, seja lá o que vier, sonho possa então um tal procedimento viabilizar a cura.

Francisco de Sousa Vieira Filho disse...

Ora escrevo só pra mim, por puro prazer, por gozo e pela arte – pelo puro e lúdico gosto de apenas brincar com as palavras [e até mesmo com os sons], tal qual num jogo, num duelo que se trava em meio ao abismo que há entre o símbolo e a idéia. Ora escrevo pros outros, pela paga de um simples e bobo elogio, e ainda pra cutucar, pra mexer, pra 'causar', pra chamar a atenção, pra gritar e até pra acordar [ainda que a mim mesmo]. Ora escrevo por exigência – 'ossos do ofício' – pra convencer, pra defender, pra proteger e pra turvar, pra nublar e ocultar, pra mentir e enganar [embora reconheça a arte engane mais – e bela seja ao menos]. Ora escrevo porque sinto faz parte do que sou [e cause estranheza talvez o fato de que alimento seja algo de que se nutre, algo que adentra, algo de que se constitui e passa a fazer parte] mas é dela [da escrita] que por vezes me alimento [embora de mim é que ela advenha – Advém? – Torço não seja excremento]. Escrever é então uma necessidade – tal qual a de respirar. E nem sempre dá pra parar a despeito dos imperativos do dia-a-dia a berrarem sua maior urgência, pois a urgência maior é viver a alma em seus longos haustos. Tal qual já disse, escrever aí é desnudar-se – e se é pra fazê-lo, que seja sem pudores [inda que o que a nudez revele nem sempre seja belo ou digno de apreciação]. Ora escrevo porque então é a letra que impera e a voz íntima que comanda. E como se me ditassem as palavras que me vêm da mente, assim elas são. E tão belas e fortes em ímpeto de idéia que mal as mãos se prestam a tão rápido transcrever os signos, as rimas ou as metáforas sem que a mente a tudo perca.

Francisco de Sousa Vieira Filho disse...

E ora escrevo só, pois ora escrever é oração [ora, ação e daquelas que se faz em silêncio]... E ora escrevo, pois palavras são somente símbolos e nada além – e mais importam as idéias a que elas palidamente tentam se reportar e representar, ocultando-as sob o véu e a máscara. Escritos, sejam lá quais forem, falam quase sempre do que não podemos transmitir a outrem com nossos signos primitivos. Já o dissemos, ousar escrever é reconhecer, sem frustração, nossa incapacidade de comunicarmos certas idéias e sentimentos – e, sobretudo, perceber haja beleza nisto. É por isto que ora só escrevo e sem mais: sem razões, sem instâncias que lhe confiram mote, ordem ou direção – motor, móvel ou pulsão. E escrevo porque há uma mágica e as palavras são como runas que nos transportam para outros mundos e nos conferem dons que nem imaginávamos possuíamos e nos aproximam dos deuses. Ora só escrevo... e chego a bendizer, quando não a amaldiçoar, não o dia em que os Fenícios fizeram traçar mágicos signos em forma de cunha em suas pequenas tabuinhas de barro, do mesmo barro de que fomos feitos [sendo então co-criadores de uma criação sem-fim, o Criador se dando a conhecer pelas criaturas, como a árvore se dá a conhecer pelos frutos], mas o dia, aquele perdido dia, oculto na noite dos tempos, em que um bando de primatas ousou misturar os sumos de flores e frutos pra registrar vida e o que quer que seja – em cores vivas – nas paredes de suas cavernas... “Escrevo porque o instante existe...” e desejo imortalizá-lo, e até mesmo o que nem exista ‘ainda’, e a quem interessar possa...
Fica aqui, porém, um alerta derradeiro: é poeta quem se permite dotar de sensibilidade tal que divise a maldição e a maravilha que há em existir; e isto por vezes a tal ponto que, quando extravasa, precise exteriorizar de algum modo [pra que talvez não se veja engolfado pelo que lhe foi dado “ver”]. Assim, pode-se ser poeta e escrever, mas poesia é visão de mundo, perspectiva – vai além [muito além] da mera escrita – é poeta quem poeta vive! E não é a poesia que precisa do mundo, o mundo é que precisa depois ía, justo porque ela imprecisa.
Há uma necessidade inarredável no espírito humano [uma?!], a de suprir o profundo vazio e a gigantesca incompletude que se sente. E é uma incompletude tal e um vazio tamanho que mesmo talvez a plena comunhão com todos os seus pares, provável, não saciasse a necessidade. Seria preciso talvez uma comunhão cósmica com tudo o que exista e provável até mais. E é desse vazio que parece[!] surgir a [co-]criação de tudo o que perpassa pela mão humana. “E no princípio, havia trevas...” e o que surge vem para extirpar a treva, causar-lhe alguma chaga ao menos, ferir sua pele turva e, quem sabe, trazer alguma luz de algo novo, de algo que, se não supre o vazio, dá alento, preenche, é paliativo, um remédio provisório que ninguém oferta senão com o profundo desejo de modificar o mundo e a realidade que o rodeia, ignorando – veladamente – não possa fazê-lo senão mudando a si mesmo, sua própria realidade interior.

Francisco de Sousa Vieira Filho

Lê Fernands disse...

Francisco,
vc entende muito bem minha paixão por escrever, a comunhão que existe com as palavras e o poder de transformação que elas têm! Obrigada pelas tuas palavras.

Bjs meus

Júlia Petit disse...

É, sem dúvida, a tua arte.
Parabéns, amiga. Vc escreve
muito e muito bem!



***Beijos***



P.S Vê se cobra barato para
escrever a minha biografia!

Pimenta disse...

Que bom! lucramos nós nadando na correnteza das palavras que escreves!
bjo!

Nêgo disse...

Benditas sejam suas palavras, que encantam varias almas. bjkas

kung fu disse...

Vai um nega fulô?
bjs

Fernand's disse...

Jú,
pode deixar, pra vc eu faço um precinho camarada! rsrs





Pimenta,
obrigada pelas doces palavras. Assim eu fico mal acostumada. rsrs





Nêgo,
que bom que fazem e trazem algo de bom para alguém. Bjs





Kung fu,
uma nega para uma nega... rsrs Hoje está perfeito para uma cachacinha. rsrs

Ju ♥ disse...

escrever é minha terapia.
bjs

Lê Fernands disse...

É minha paixão, terapia, cura, companhia, transgressão, paz, alegria.... Por aí vai! rsrs

Ju ♥ disse...

é tudo né? rs
bjs