Benditas Palavras Bem Ditas: LUTO

sexta-feira, novembro 14

LUTO


 
 
 
 
 
 
via web
 
 
 


 
Em meio ao corre do dia, meu coração acaba de levar um solavanco: ELE SE FOI! O meu poeta se foi... Uma pausa com a respiração presa, a cara de susto, um caroço na garganta e uma vontade de chorar tão grande, como se ele fosse da minha família, como se eu tivesse escutado suas histórias debaixo de uma frondosa mangueira.

Não é meu parente, nunca estivemos juntos pessoalmente, mas sempre me fez companhia como um bom amigo. Hoje, o tempo ficou morno, foi amarrado no poste. Hoje, as aves encheram mais ainda o peito de ar para permanecerem na atmosfera. O menino Manoel se foi. Aquele que viveu e cortejou a natureza como ninguém igual. A viveu como exemplo, inspiração, abrigo e modo de existência. Manoel namorou árvores, seguiu lesmas, reverenciou formigas, vestiu-se de musgos, ouviu peixes, influenciou caracóis, acompanhou passarinhos, tocou amanheceres, deitou-se com os poentes dos dias, beijou estrelas, mergulhou na liberdade do que nos faz presentes e vivos aqui.

Esse menino cumpriu o pacto, a paixão de distribuir a liberdade ao mundo. Liberdade essa que nunca se oprimiu, porque a natureza se move, se transmuta, muda e dá cor ao mundo, aos muitos que dela vivem, aos que a apreciam e aos que também a destroem. Manoel viveu um bocado de anos sem perder-se de sua infância, sua criança esteve sempre presente e foi esse menino que deu significado ao desimportante, à beleza do cotidiano - tão grandioso e ignorado. Ofício árduo e diário. Foi esse menino que encorajou as árvores para balançarem com furor hoje, como se cortejassem sua existência e cumprimento de ofício. Amor aos pés no chão, ao barulho do rio, ao brilho do rastro da lesma que se apaga com o musgo no inverno.

Menino Manoel foi amor à vida simples. Fincou raízes no coração de quem entende suas palavras, essas sempre uma ode à vida. Por esses a gente chora na partida e vasculha rapidinho os versos decorados, soltos e amarrados lá dentro. Se vai a matéria, fica um nome, uma linda obra, um estado, porque Manoel de Barros deveria ser um modo de viver, um jeito de ser passarinho, de ser árvore, de ser criança... Mesmo depois de sermos gente grande.
 
Meu poeta favorito, meu bom amigo, voa em paz, brilha como as estrelas e os sois que tu colocastes no papel e eu tirei de lá pra guardar aqui dentro de mim. Obrigada pela grandeza da simplicidade que aprendi com tuas palavras, MANOEL DE BARROS, MEU IMORTAL... Porque "minhocas arejam a terra; poetas, a linguagem" e o meu coração segue aqui, torcendo para também virar passarinho quando for a minha hora...

LêF.
 






6 comentários:

Felipe Sanches disse...

Enorme.

JuliaF disse...

Amiga, lembrei de vc no momento qdo soube da noticia! Vc sempre fa, as coisasque ele diz é mesmo a tua cara, teu jeitinho de gostar da natureza, dos bichos. Linda homenagem a sua... Deveria ser lido em público para todos que amam esse menino Manoel. Praabens! Saudades de vc..



Beijos, Julia Foz

JuliaF disse...

Amiga, lembrei de vc no momento qdo soube da noticia! Vc sempre fa, as coisasque ele diz é mesmo a tua cara, teu jeitinho de gostar da natureza, dos bichos. Linda homenagem a sua... Deveria ser lido em público para todos que amam esse menino Manoel. Praabens! Saudades de vc..



Beijos, Julia Foz

Graça Pires disse...

Manoel de Barros continuará sempre entre nós porque a sua obra maravilhosa não nos deixará esquecê-lo.
Uma excelente homenagem...
Beijo.

Carlos Henrique disse...

Uma perda. Muitas lições.

Cor de Rosa e Carvão disse...

Menos uma letra no alfabeto. Aos poucos, nossa literatura está ficando muda.