Janela clandestina.

"O espelho reflete certo;

só não erra porque não pensa".

Fernando Pessoa

"Não era a vaidade que a atraía para o

espelho, era o espanto de descobrir-se".

Milan Kundera

via web

"(...)

Sempre ao meu alcance e presença, hoje resolvo encontrar-me contigo de verdade. Repetes os meus gestos e eu acho que estás tirando uma com minha cara. Deve ser mais prudente não me aproximar, nada de intimidade. De rabo de olho vejo algo familiar. É meu. Sou eu. Eu em ti! Como podes reproduzir a mim com tanta perfeição? Até meus defeitos são fielmente visíveis. É melhor parar por aqui, não quero ver.

Não resisto, ultrapasso a fronteira e é como se estivesse me vendo de uma janela clandestina. Sou exata de longe, mas mais perto enxergo-me inexata, flutuante. Olhos nos olhos. Profundos. E o (meu) mundo todo tá ali: um buraco sem fundo.        

Já chega! Não reveles meus segredos, não tens esse direito. É da minha conta contá-los ou não, inclusive a mim. Vou indo. Não me olhes mais desse jeito, espelho.

Fique bem. Bem calado.

(...)"

Fernand's

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Trecho do conto Janela clandestina.

Meu.